domingo, 1 de maio de 2011

O começo de uma história

Quase todas as histórias terminam quando acontece o felizes para sempre. A minha começa ai.
    Era uma vez, um reino que se localizava no centro do mais belo pôr-do-sol do mundo. Só se podia chegar lá com um coração bom, uma alma pura e um desejo verdadeiro. O nome desse reino era Reino das Intensões, porque lá não importava exatamente o que você fazia ou dizia, mas o que você queria demonstrar, dizer ou fazer sentir com suas palavras e ações.
    A beleza do reino estava na integridade de seus Reis e Rainhas e na dignidade do seu povo. Só que havia um problema... Uma mulher fui consumida pelos sentimentos obscuros que vez por outra tomam os corações humanos, ela se entregou a eles como se fossem uma fonte de vida e ela fugiu e se escondeu nas profundezas da Floresta das Matas Mais Verdes. Lá ela consagrou esses sentimentos como seus mestres e passou a ser a melhor das aprendizes.
    Num reino de intensões não era possível mascarar o que se pretendia, mas ela havia sido de tal maneira influênciada pela Mentira, a Ganância, a Arrogância, o Orgulho, o Preconceito e tantos outros sentimentos nocivos que aprendeu a esconder seu eu verdadeiro atrás de uma barreira.
    Ninguém suspeitava de nada, pois ninguém nunca havia conseguido mascarar intenções antes e mulher parecia dócil e meiga. Tão dócil e tão meiga que conquistou o príncipe do reino. Parecia uma história, daquelas que se conta para crianças. A camponesa servil conhece o príncipe gentil e eles se apaixonam com o primeiro olhar. O príncipe mostra ao Rei e a Rainha como está apaixonado e como o sentimento é verdadeiro e recíproco e depois de conhecer a Mulher do Sorriso Mais Belo de Todos, o veredito foi rápido: Podem casar.
    O rapaz apaixonado não perdeu tempo e logo começou com os preparativos, junto com sua noiva, a segunda mulher mais adorada de todo o reino. Casaram com menos de dois meses e parecia que o mundo inteiro tinha se emocionado com as juras sinceras de amor entre os pombinhos.
    A certeza de que tinham uma princesa e um príncipe perfeitos foi o que amenizou a tristeza de toda a população do Reino das Intensões quando o Rei e a Rainha faleceram por algum motivo desconhecido. O príncipe se apoiou em sua esposa companheira e mesmo com a tristeza foi forte para superar a morte dos pais. E quatro meses após o casamento de Nyree e Tyr, o casal estava assumindo o trono, como novos Rei e Rainha.
    A Rainha não era mais tão dócil e tão perfeita quanto no início, mas o Rei não se incomodou, pois logo descobriu que ela estava grávida. Grávida! Imagine! E como ele sabia que mulheres são todas um pouco confusas fingia não notar nada de estranho. E foi então que um tempo depois eu, Britannia, nasci.
    E foi então que as coisas começaram a mudar. Sem perceber aonde que tudo se tornou diferente, o povo assistiu embasbacado o seu Rei Perfeito se transformar no Rei Eternamente Triste e sua Rainha Perfeita se transformar na Rainha Fria Como Gelo. A princesinha? Bem... Ela crescia rodeada de sentimentos conflitantes, tentando se manter inteira enquanto os mestres de sua mãe lutavam para fazê-la se render.
    Ela cresceu e viu sei reino tombar aos poucos em desgraça. Então ela fugiu em busca do seu felizes para sempre, que seria quando conseguisse restaurar a paz do Reino que um dia fora o melhor de todos. Ela correu, sem príncipe encantado esperando-a do lado de fora, acompanhada apenas por seus pensamentos, sem fada madrinha abençoando-a até a meia-noite e sem vestido de gala para se sentir linda. Fugiu com seu senso de dever, com sua obrigação, com o propósito de sua vida. Se perdeu nas ruas desertas de uma solidão incerta, para se encontrar e reencontrar seu povo.
    Ela fugiu. Correu contra o tempo e começou sua jornada, buscando algo que pudesse fazê-la se sentir inteira.

"A ação contêm intenção e é a intenção o que define." Série Fever - Karen Marie Moning

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Brigadeiro com Queijo Ralado


HOJE
    E na confusão da mudança, encontrei uma caixa. Não era uma caixa qualquer, tinha um tamanho médio e por baixo dos dois dedos de poeira era muito colorida.
    Segurei-a no colo e passei a mão de leve, espanando sua tampa, já prevendo uma possível alergia.
Close your eyes and hear the song inside of you
Li essa frase escrita em preto, na minha letra mais caprichada. Sentia que se abrisse a caixa as lembranças poderiam simplesmente se esvair, por isso fui abrindo aos pouquinhos, vendo o cheiro do passado permeado o quarto que logo não seria mais meu.

10 ANOS ANTES
- Alice! O que você fez com o brigadeiro?
- Coloquei queijo ralado – falei segurando o riso ao ver sua expressão – É gostoso, Arthur. Confie em mim. – Sorri.
Enquanto ele fazia um senhor drama para provar a receita nova , corri para o som e coloquei um CD. Virei e andei até ele dançando ao ritmo de Runaway, do Bon Jovi.
    - Deveríamos fazer uma cápsula do tempo – ele disse.
    - Como é?
    - Uma cápsula do tempo, sabe? Daqui a alguns anos vamos poder lembrar de tudo que fizemos juntos, lembrar um do outro.
    - Como se eu pudesse te esquecer... – disse fazendo biquinho, me aninhando em seu colo enquanto pegava uma colher do brigadeiro.
    - É, eu sou inesquecível, mas você... – dei-lhe um tapa no braço ante que ele pudesse terminar a frase. Nós rimos e ele me olhou nos olhos – Amo você.
    Me ajeitei em seu colo e depois de comer mais um pouco disse:
    - Poderíamos colocar fotos, cartas, CDs, bilhetes de cinema... – olhei-o – Na cápsula do tempo.
    - Essa vai ser a primeira – Antes que eu pudesse entender o significado da frase ele puxou a câmera de cima da minha cama, sorriu e bateu uma foto.

HOJE
    Rolei a foto na minha mão... dava para ver o brigadeiro meio comido no chão do quarto, minha expressão era confusa e o sorriso dele, como sempre, encantador.
    Lembro que tentei impedir de todas as formas que aquela fosse a primeira foto... eu estava horrível! Frente ao meu pedido desesperado ele apenas riu e me fez assinar o nome junto do dele na parte de trás da fotografia.

7 ANOS ANTES
    - Preciso te dizer uma coisa – ele mexia nas mãos nervoso.
    - Deixa só eu terminar de enviar essa sms.
    - Mas é importante...
    - Um segundinho – falei sem desgrudar os olhos do celular.
    - HEY! QUERIA A ATENÇÃO DE TODOS VOCÊS. – Virei sem acreditar que ele tinha subido num banco, no meio do corredor do shopping, num sábado a tarde e o pior, TODO MUNDO estava prestando atenção nele!
    - Eu preciso de ajuda! Quero pedir minha melhor amiga em namoro e ela me pede para esperar. Alice – ele falou agora olhando para mim – eu espero desde a primeira vez que te vi. Estou apaixonado por você e não dá mais para esperar... Você quer namorar comigo?
    Eu ainda estava muda, com as bochechas corando e o coração a mil. Ele viu que eu estava estática e resolveu fazer uma brincadeira para descontrair. Ou pelo menos eu acredito que tenha sido uma brincadeira – Quer saber? Vou pedir logo de uma vez, porque acho que não tenho coragem de fazer algo assim de novo: quer casar comigo? – Ele desceu do banco e me olhou.
    - Claro que sim! – Minha voz saiu baixa e eu pulei em seus braços, mal ouvindo os “awn, que lindo!”, “que fofo”, “olha que romântico”...

HOJE
    Coloquei de lado a milésima cartinha da nossa correspondência boba e apaixonada. Meu coração batia descompassado, vendo aquela letra rabiscada.
    A caixa inteira tinha o cheiro dele.

5 ANOS ANTES
    Acenei para alguns colegas que passavam e sentei num banco qualquer da faculdade.
    Uns dez minutos depois olhei novamente o relógio cor-de-rosa, cheio de coisas brilhantes , cujo Arthur sempre fazia graça quando via. Já faziam 40 minutos desde que minha aula havia terminado e nada dele chegar...
    Atrasos acontecem de vez em quando, mas eu conseguia sentir que daquela vez era de alguma forma diferente. Estava com um aperto no coração e um frio desconfortável na barriga.
    Li novamente a mensagem que ele tinha me enviado: Amor, estou no supermercado. Vou pegar você ai, tenho uma surpresa =X Vamos no seu restaurante preferido e lá te conto. Te amo <3
    Tentei me convencer de ele tinha se atrasado nas compras, que a fila estava muito grande ou que ele tinha passado em casa logo para deixar as compras, que o celular tinha descarregado e o pneu do carro furou, QUALQUER COISA. Mesmo que algo em mim soubesse que não era verdade.
    Me perdi em pensamentos por mais alguns minutos, cantarolando uma música qualquer que veio na minha cabeça na hora, quando o telefone tocou. Só podia ser ele me explicando o porquê da demora e dizendo que já estava entrando aqui no estacionamento.
    Não era.

HOJE
    Lágrimas desciam tímidas pelo meu rosto e minhas mãos tremiam fechadas no meu colo. Quis ter força para pegar mais alguma coisa na caixa, mas a única coisa que consegui fazer foi fechar os olhos e respirar fundo relembrando a música que eu cantarolava naquele mesmo momento.
    Tentando fazer tudo ser como era antes daquele telefonema.

5 ANOS ANTES
    Não sei como cheguei no hospital. Se fui de táxi, de carona, a pé, correndo... Não sei o caminho que fiz, sequer lembrava o nome do hospital aonde eu estava.
    - Onde ele está? - Perguntei com a voz falhando, pálida e trêmula.
    - Sente, minha querida. - Ouvi seu pai falar com uma voz de choro e um sorriso fraco, enquanto abraçava a tia Lúcia, que chorava initerruptamente. Eu não me movi. - Os médicos não dizem nada... Ele está em cirurgia.
    Sem uma palavra fui atrás de alguém que me dicesse algo, mas antes que pudesse realmente sair do canto, o médico apareceu na minha frente.
    - Onde ele está? - Refiz a pergunta. Não confiei em mim mesma para dizer qualquer outra coisa.
    - Ele... - O doutos suspirou pesaroso, olhando para mim e para os pais do Arthur que estavam do meu lado - Desculpe. Fizemos o possível.
    Fiquei estática em meu lugar, olhando para o homem a minha frente. Ouvi vagamente um grito e muito choro atrás de mim, mas tudo parecia distânte demais. Sem que eu percebesse, o médico se aproximou mais um pouco de mim.
    - Isso estava com ele. - Me entregou uma caixinha de veludo púrpura e um pedaço de papel rabiscado.
    Abri a caixinha e vi o anel mais lindo do mundo. Era de prata, pequeno e delicado, no topo, um brilhante que mais parecia um floco de neve e quando tirei o anel da caixa, li a inscrição: minha pequena.
    - Sim... - sussurrei baixinho, colocando o anel em meu anelar esquerdo.
    Apesar de tudo, foi somente quando li o papel que saí do estado automático de dormência em que estava e fui capaz de expressar alguma emoção.

Ei gatinha,
Lice, sei que você vai rir quando souber que eu fiz isso só para a cápsula do tempo. Tudo que está escrito aqui eu vou dizer para você. Hoje é o dia em que eu vou te pedir em casamento (de verdade, dessa vez). Você já é minha desde sempre, mas quero poder gritar isso aos quatro ventos, quero que leve meu sobrenome no seu nome e o meu anel na sua mão esquerda. Quero passar o resto da minha vida ao seu lado. Quero poder brigar com você quando você quiser dar nomes estranhos aos nossos filhos e fazer cena de ciúmes quando você fica falando de alguns atores e cantores (fala sério, Bon Jovi não está com nada perto de mim). Quero uma casa enorme, cachorros e um monte de mini-nós-dois correndo por todos os lados. Implicar com suas misturas estranhas de comidas e te beijar quando você reclamar que eu estou trabalhando demais. Eu estou tão apaixonado por você... Sabe, nós funcionamos na mesma frequência e você me vê melhor que ninguém e sabe do que eu gosto sem que eu precise dizer. Eu gosto da sua voz e do jeito como ela muda quando você está comigo ou falando de mim. Eu realmente gosto muito de você.
Quero te ter em meus braços quando dormir e quando acordar. Poder dizer "eu te amo" a hora que eu quiser, sequer precisando de palavras.
Mas mais do que tudo quero que a gente leia essa carta quando tivermos uns 50 anos de casados, ouvir sua risada e falar sobre como nós conseguimos conquistar nossos sonhos juntos. Vou te olhar nos olhos e dizer que te amo ainda mais, porque para mim, só poderia ser você.
Arthur.


HOJE
    Passei os dedos vacilantes pelo papel. Chorava como chorei na primeira vez que o li.
    Olhei para minha mão direita e pensei que não havia como sentir tanta dor quanto eu sentia, sabendo que depois de viver tudo isso eu estava com um anel que nem se compara com esse que eu segurava agora.
    Mas eu tinha que seguir em frente...

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